Só nós dois

quarta-feira, 16 de setembro de 2015




como aparecimento de outras salas maiores e melhor localizadas, como o Cinema Éden,
 o Royal Cine acabou por ser relegado para um estatuto de reprise. 
Acabou por encerrar as portas 
em Março de 1976 com o filme "Voluntários à Força".


É Supermercado tipo Continente


Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império
localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou 
com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.








Infelizmente, e sem surpresa alguma, este edifício foi comprado pela IURD em 1992,
 que aí estabeleceu a sua sede e local de culto em Lisboa. Em 1996,
 este edifício foi classificado como imóvel de interesse público pelo IGESPAR.


Café Império


Rua da Madalena



Os bairros típicos de Lisboa acolheram com muito entusiasmo a actividade
 cinematográfica que surgiu em Lisboa no inicio do Séc. XX. 
Pelo menos, alguns bairros tinham o seu espaço dedicado ao cinema:
 Mouraria com o seu Salão Portugal; Bairro Alto com o seu Salon Rouge;
 Alcântara com o seu Salão Alcântara e o Cinema Promotora;
 Graça com o Royal Cine, o Gil Vicente, a Voz do Operário e o Salão Recreio. 
O Bairro da Madragoa iria seguir estes exemplos e também teria o seu animatógrafo,
 localizado na Rua das Trinas (precisamente onde existira anteriormente
 uma modesta sala de teatro designada de Teatro das Trinas) designado de Salão das Trinas.


Casa de Fados e fechou portas


Continuando pelo Bairro da Madragoa, outro animatógrafo iria surgir em 1924
 instalado no antigo Convento das Bernardas, localizado na Rua da Esperança,
 designado de Cine Esperança. Contudo, este espaço teria o mesmo destino
 do Salão das Trinas e, em pouco tempo, viria a fechar portas,
 comprovando-se que os habitantes deste bairro não estavam
 interessados no cinema.

Este espaço abriu as portas ao público em 1909, destinado inicialmente 
para um público mais popular, e sem grandes comodidades, como era normal em 
tantas outras salas da época, 
visto que o público era pouco exigente e só queria vislumbrar o que a tela oferecia.
 Contudo, também este salão sofreu 
alterações a nível das comodidades para com isso fidelizar a sua clientela.
Embora fosse um espaço popular, isso não significava que outros públicos não acorressem
 ao mesmo para ver cinema


Cinema Trindade


Chegou a erado Parque Mayer






Cinema São Jorge - Avenida da Liberdade






Cinema Condes (atual Hard Rock Café) - Praça dos Restauradores






Interior da Estação do Rossio (antigo Cinema Terminal) - Rossio




Teatro Politeama - Rua Portas de Santo Antão




Animatógrafo do Rossio - Rua dos Sapateiros (Arco da Bandeira)







Visita à era de ouro dos animatógrafos em Lisboa


Depois da história publicada sobre o Salão Fantástico (um dos primeiros animatógrafos que surgiu em Lisboa no inicio do século XX), continuei a pesquisa sobre mais alguns espaços esquecidos de Lisboa que tiveram a sua importância histórica, principalmente na área cinematográfica. 
O primeiro animatógrafo a ser redescoberto é o Salão Avenida, inaugurado em 1898 na Avenida da Liberdade, um pouco acima da Rua das Pretas.
O seu aparecimento deveu-se ao capitalista Alexandre Mó (um dos homens mais respeitados da alta sociedade lisboeta), responsável pelo aparecimento da empresa que explorava as exibições do animatógrafo do Coliseu dos Recreios. Também já se encontrava ligado ao mundo do espectáculo graças ao auxilio financeiro que prestou na construção do Teatro Avenida, inaugurado em 1888 na Avenida da Liberdade. Contudo, um desentendimento com o seu sócio Manuel Costa Veiga fez com que ele se aventurasse sozinho e investisse numa nova sala exclusiva para sessões cinematográficas.
Essa aventura foi o surgimento do Salão Avenida que teve uma existência curta, encerrando um ano depois de ter sido inaugurado. O seu edifício foi depois reutilizado para ser o local do depósito de água das Lombadas (ver fotografia), a sede da Aero-Portuguesa e, mais tarde, o Café Avenida. Actualmente alberga um conjunto de escritórios, mas ainda mantém a fachada original.


A próxima paragem leva-nos à zona do Chiado (que juntamente com as zonas do Rossio e Restauradores eram as mais privilegiadas no surgimento de animatógrafos), mais concretamente à Rua Nova do Almada, onde se situa um dos edifícios mais famosos da cidade...os Armazéns do Chiado. Perguntarão...porquê que este edifício está a ser mencionado neste blogue? Muito simples...este edifício também albergou um animatógrafo.
Em 1907 um senhor chamado Raul Lopes Freire (filho de um respeitado comerciante lisboeta) decidiu inaugurar um animatógrafo, depois de ter assistido à exibição de filmes no Coliseu dos Recreios. Esta sua paixão pelo cinema fez nascer o Salão Chiado (conhecido também como o "Animatógrafo dos Armazéns do Chiado"), localizado no interior dos Armazéns do Chiado.
O espaço, dirigido pelo austríaco Francisco Stella, era pequeno e modesto mas tinha uma boa afluência popular, o que lhe permitiu manter uma estável situação económica. Exibia fitas "para todos", com cançonetas e duetos nos intervalos, mas também fitas "para homens" em determinados dias.
Contudo, como homem de negócios que era e entusiasmado com o sucesso deste salão, Raul Lopes Freire decidiu adquirir uma sala mais ampla e cómoda. Esse desejo levou ao surgimento do Salão Central na zona dos Restauradores em 1908, mas a afluência do público ao Salão Chiado mantinha-se inalterável.
No entanto, Lopes Freire resolveu findar a curta mas brilhante carreira do Salão Chiado em 1908, para se dedicar à exploração mais rentável do novel Salão Central.





No mesmo ano de 1907 foi inaugurado outro espaço que também seria um animatógrafo. Designou-se de Teatro Moderno e localizava-se na Rua Álvaro Coutinho, junto à Avenida Almirante Reis. Esta inauguração deveu-se aos esforços do antigo actor Santos Júnior e a referida casa de espectáculos era ampla e bonita, permitindo a realização dos mais diversos espectáculos. A partir de 1910 este espaço começou a exibir cinema, função esta que durou vários anos a par da teatral. Em 1916, este espaço funcionava como um cine-teatro o seu programa incluía a projecção de filmes, variedades e circo.
No entanto em 1918, este espaço findava as suas actividades, sendo vendido e demolido. O seu pano de boca (na época de notório sentido artístico) adquirido por um ferro velho, foi comprado por uma empresa teatral da época para ser utilizado no seu próprio recinto de espectáculos.








Outro espaço que também se transformou em animatógrafo, e que ficava bem próximo do Teatro Moderno (na antiga Travessa do Borralho, actual Rua Francisco Lázaro), foi oTeatro Salão dos Anjos, vulgo Teatro do Borralho.
O seu aparecimento ocorreu no inicio do Século XX e foi construído para ser essencialmente um teatro, apesar das suas modestas instalações. Em 1914, este espaço começou a ter sessões de cinema, mas viria a encerrar na década de 1930, tornando-se mais tarde na sede do Lisboa Ginásio Clube.




Em 28 de Março de 1880, o jornal "Diário de Noticias" descrevia com pompa e circunstância a inauguração de uma casa de espectáculos designada de Teatro do Rato. Este novo espaço era descrito como bonito, decente, com ares de elegância despretensiosa, possuidor de um salão de sofás estofados, de ouvreuses para abrir os camarotes e elogiar as senhoras, de uma boa iluminação que davam relevo às alegres decorações, de 500 lugares e de uma razoável orquestra.
Este popular mas esquecido teatro situava-se no pátio da antiga Quinta do Ferreira (terreno que pertencera à Fabrica das Sedas), propriedade então do Marquês de Palavicini, com entrada pelo Largo do Rato que sobreviveu à passagem do tempo.
Contudo, a sua existência foi atribulada. Em 1881 encerrou durante alguns meses, reabrindo depois com a companhia organizada por Salvador Marques, da qual fazia parte a actriz Adelina Abranches. Os preços da plateia variavam entre os 100 réis e os 300 réis, os camarotes de 1ª ordem entre 1$200 e 1$500 e as frisas entre 1$000 e 1$200 réis. Este preçário era bem mais acessível do que os praticados nos elitistas São Carlos e Trindade. Mas este pormenor não era o único que diferenciava este teatro dos outros. Também foi importante o repertório que modelou o auditório popular deste pequeno teatro. Passaram por este espaço actrizes célebres como Palmira Bastos, Sofia Santos e Filomena Calado. Este popular mas modesto teatro foi palco para a estreia e despedida de grandes actores durante a sua curta e atribulada existência.
Até 1906 este teatro era gerido pelo actor Santos Júnior, até que um incêndio devorou a sala de espectáculos. As chamas também consumiram a barraca do Bazar Tourada, que na época estava armada junto do teatro. Reza a história que o animatógrafo passou por este espaço em 1910, embora de uma forma momentânea.







Em 1907 a zona do Chiado voltou a ser agraciada com o surgimento de um novo salão, que iria aderir à grande moda da época que era o animatógrafo. Este espaço designado deSalão São Carlos localizava-se na Rua Paiva de Andrade, junto ao edifício da Casa Ramiro Leão e perto do Palácio Pinto Bastos.

Na época era considerada uma bela sala com todas as comodidades e segurança, possuindo diversas salas de espera e uma enorme sala de buffet. Os donos não pouparam a meios para equipar este espaço com o melhor equipamento de projecção existente na altura.
Sessões variadas realizavam-se todas as noites das 19 às 23 horas. Aos Domingos e dias santificados existiam matinés a partir às 13h30.
Os preços eram razoáveis, apesar da utilização de um aparelho caro como o Electro-Kino. Assim, a "geral" tinha o preço de 60 réis e as "cadeiras" custavam 110 réis. A publicidade a este espaço era feita através de panfletos que eram distribuídos pela população, que assim ficava a saber quais eram os espectáculos que iriam ser exibidos no referido salão.
Contudo o estado de graça durou pouco tempo, mais concretamente um ano e meio. O seu encerramento ocorreu devido ao aparecimento de outras salas mais amplas e modernas espalhadas pela cidade.




Salon Rouge foi mais um  espaço lisboeta a usufruir da experiência do animatógrafo, tendo sido inaugurado em 1908 na Rua Dom Pedro V entre o Bairro Alto e o Príncipe Real. A sua designação era muito pomposa, mas a sua fachada era tudo menos isso. Era um salão improvisado sem muita comodidade ou requinte, mas que conseguiu permanecer aberto durante quase duas décadas.

Na época esta sala, a partir da meia noite, exibia fitas pornográficas em sessões denominadas Sessões para Ingénuos: Fitas d'alta potência. Estes filmes eram mudos e de curta duração e provavelmente de origem francesa, visto que a França (a par dos EUA) foi uma das precursoras da pornografia cinematográfica. Foram exibidos filmes com títulos interessantes como Espectáculo Imprevisto (natural), Aventuras no Campo (desenjoativo), Justina a tomar banho (preparação), Duas Amigas (Hoje há fressura), Pintor Modelo ( Principia a erecção), etc.
Graças ao sucesso destas exibições bastante acaloradas, o Salon Rouge chegou a ter filiais como o Chalet Rotunda na Feira de Agosto. Contudo este espaço viria a encerrar em 1926 e converter-se-ia numa garagem.



Em 1909 abriu ao público o "Grande Animatographo de Alcântara", que anos mais tarde (quando passou para as mãos do publicista Ludgero Viana) ganharia a designação deAnimatographo de Alcântara.
Localizado na famosa Avenida 24 de Julho, era considerado na altura um dos mais vastos recintos da cidade embora as suas instalações ficassem aquém dessa vastidão. Mas isso não impediu que tivesse um público fiel, com sessões à 2ª feira, 4ª feira e Domingo.
Este espaço (também conhecido como Salão Alcântara) ardeu em 1918 num violento incêndio causado por um curto circuito, o que valeu ao seu empresário (responsável pela exploração da sala) um valente prejuízo, visto que ele não tinha nada coberto pelo seguro. No entanto a propriedade (que pertencia ao industrial J. Lino) que abrangia o terreno e o imóvel estava coberta pelo seguro. Assim sendo no final desse ano foram iniciadas obras de reconstrução feitas em tempo recorde, permitindo a reabertura deste espaço público no inicio de 1919.
Infelizmente este espaço só duraria mais três anos, encerrando a sua actividade em 1922. O edifício foi desaparecendo com a passagem do tempo e, actualmente, só existe uma fachada em vermelho de um espaço que outrora marcou significativamente o meio social lisboeta.





Fonte:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
RIBEIRO, M. Félix, Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca Nacional, 1978
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/11/cinematografos-e-animatografos.html
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/01/grandes-armazens-do-chiado.html
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/10/agua-das-lombadas.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/10/salao-chiado-1907-1908.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/10/salao-avenida-1900-1901.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/10/salon-rouge-1908-1926.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/12/animatographo-de-alcantara-1909-1922.html
http://www.f-saomamede.pt/up_files/1272623782.pdf
http://www.dn.pt/gente/interior.aspx?content_id=1322759
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