Só nós dois

domingo, 23 de outubro de 2016

Com que então...


Uma análise à entrevista no programa "Play-Off" da SIC e de como
"cuspir no prato onde comeu"
por Jorge Jesus.



Começo este artigo por escrever que Jorge Jesus tem todo o direito de actuar como bem entender. No entanto, não deve tentar mostrar algo que não é e que tentou fazê-lo ontem na entrevista da SIC. Vários foram os temas que foram debatidos brandamente no programa de ontem. Fiquei com clara sensação que o jornalista Rui Santos mais parecia um assessor de imprensa do Sporting, tal a disposição e defesa ao agora treinador do Sporting. Manuel Fernandes, ter estado lá ou num gabinete no Sporting, talvez fosse melhor estar em Alvalade. Rodolfo Reis sempre "malandro" elogiou em demasia o técnico Português, mas sempre terminando com uma pressão maliciosa em forma de comentário caso as coisas corram mal. O moderador do programa fez lá observações pertinentes embora não tenha conseguido ganhar o respeito de Jesus que sempre que lhe respondia, fazia-o num tom autoritário e quase como "lá tenho eu de explicar o b-a-bá". Por fim, uma palavra para o António Simões: penso que foi demasiado cordial e poderia ter metido o dedo na ferida em muitos dos temas, conforme irei efectuar nas próximas linhas.

Regra geral, penso que o programa deu para entender do porquê do futebol nacional não evoluir. Em primeiro lugar, senti um enorme balão de egos dentro daquele estúdio que dava para saltar para as nossas salas de estar. Tirando o António Simões, que manteve-se igual a ele próprio, todos os outros só gabavam de serem os melhores. No entanto, pouco explicavam ou então trocavam-se todos quando tentavam explicar. Pareciam os "velhos do Restelo" que Camões tão bem soube descrever nos Lusíadas. Segundo, senti que havia muita gente naquele estúdio à caça do "tacho". Terceiro, quando Simões perguntou sobre o que achavam do tema sorteio ou não sorteio, nenhum deles teve uma resposta de quem realmente tem conhecimento de como as coisas funcionam no futebol profissional. Tirando o representante do Benfica os restantes tinham respostas dignas das mais variadas tabernas do nosso país.

Bem, mas vamos lá ao que interessa:
  • Jesus diz que não se sentiu desejado no Benfica ao longo desta última época e eu pergunto, tendo em conta todo o apoio da massa adepta do Benfica (#colinho) durante toda esta temporada como foi isso possível? E mais, como foi possível ele ter sentido desejado por todos no Benfica à três épocas atrás quando perdeu tudo?!
  • Confessa lá que o motivo foi o dinheiro... e já agora, achas que descontas muito? Num país onde a maioria da população ganha perto do ordenado mínimo nacional?!
  • Se a tua saída do Benfica não teve a ver com uma mudança de política desportiva do clube então teve a ver com as "verdinhas" não foi? Caso contrário não repetias o tema de não teres tido aumento de vencimento durante todas estas temporadas na Luz...
  • Sobre a estrutura e o trabalho do treinador, quem é mais importante?O treinador?! Como tu disseste? "Não são as estruturas que ganham campeonatos. As vitórias alimentam as estruturas."!? Hmm... então quando perdeste três anos seguidos devíamos ter-te dado o pontapé no rabo em vez de afinarmos toda a estrutura para te ajudar a conquistar estes dois últimos títulos nacionais, não achas Jesus?
  • 6 anos de águia ao peito e nem sequer te despedes dos jogadores quando te vais embora? Porque não foste à gala da Liga de Clubes receber o prémio de melhor treinador? Penso que aí terias a oportunidade ideal para fazer a homenagem aos jogadores com quem trabalhaste durante estas várias épocas de encarnado, não? 
  • Já agora sobre os jovens da formação... O Bernardo Silva não ficou no Benfica porque estava atrás de Gaitán e de Salvio apenas?! Então e o Ola John, o Sulejmani, o Bebé,...estavam atrás do Bernardo era? É que se assim fosse aposto que o jovem craque encarnado ainda lá estaria. Depois falas nos jovens que levaste na pré-época passada, mas depois quantos deles aproveitaste? Tenho pena aqui que o Simões não o tenha colocado entre a espada e a parede, a perguntar porquê um Luís Filipe quando se tem um João Cancelo? Porquê um Felipe Menezes quando se tem um David Simão? Mais, verifiquei que confundes convenientemente as pessoas com o dizer que apostar na formação é meter um miúdo no onze titular, quando na realidade é dar-lhe um lugar no plantel e apostar nele aos poucos até conseguir integração.
  • Sobre potencializar um jogador, em vez de te andares a gabares de que és tu Jesus quem crias os jogadores, aprende com o "mestre" Simões sobre o tema...
  • Jesus acaba por esclarecer o porquê de que todas as suas pré-épocas no Benfica parecia treinos de captações, tal a quantidade de jogadores. Afinal é a sua forma de trabalhar. Não deixa de ser curioso quando em todo o lado do mundo do futebol profissional escolhe-se um leque limitado de jogadores para trabalhar e aqui em Portugal ainda se fazem treinos de captações. Talvez, não tenha sido a impossibilidade de não ter Jonas para a Liga dos Campeões que impossibilitou o Benfica ter continuado na Europa. Talvez tenha sido o tempo perdido em ver Luis(es) Filipe(s) na pré-época. E, já agora, porque não ler os relatórios do departamento de "scouting" encarnado? Talvez evitasse muito tempo perdido, não?!

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