Em Janeiro de 1961 deu-se o assalto ao paquete "Santa Maria", incidente que na época notabilizou a contestação ao Governo de Oliveira Salazar, e introduziu a prática, depois muito difundida internacionalmente, de sequestrar navios e aviões com fins políticos.
O "Santa Maria" havia largado de Lisboa a 9 de Janeiro de 1961 em mais uma das suas viagens regulares à América Central, fazendo escala no porto venezuelano de La Guaira no dia 20.
Entre os passageiros embarcados neste porto, contava-se um grupo de 20 membros da DRIL - Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, organismo constituido por opositores aos regimes de Franco e Salazar, cujo comandante era o capitão Henrique Galvão, que embarcou clandestinamente no "Santa Maria" um dia depois, em Curaçau, com mais três elementos da DRIL.
Galvão estava exilado na Venezuela desde Novembro de 1959, e em Julho de 1960 havia concluído os planos de assalto ao "Santa Maria".
Fora escolhido este paquete por ser muito superior aos diversos navios de passageiros espanhóis que na altura faziam a carreira da América Central.
O capitão Galvão pretendia deslocar-se no "Santa Maria" até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, cuja tomada permitiria em seguida efectuar um ataque a Luanda e iniciar, a partir de Angola, o derrube dos Governos de Lisboa e de Madrid.
Horas depois da largada de Curaçau, o "Santa Maria" navegava rumo a Port Everglades, na Florida, com 612 passageiros e 350 tripulantes, sob o comando do capitão da Marinha Mercante Mário Simões da Maia, quando, precisamente à 1 hora e 45 minutos da madrugada de 22 de Janeiro de 1961, os 24 homens de Henrique Galvão tomaram conta da ponte de comando e da cabine de TSF, dominando os oficiais do navio.
O terceiro piloto João José Nascimento Costa ofereceu resistência aos assaltantes e foi morto a tiro.
Pouco depois, o "Santa Maria" alterou o rumo para leste, procurando alcançar rapidamente o Atlântico.
A 23 de Janeiro, o navio aproximou-se da ilha de Santa Lúcia e desembarcou, numa das lanchas a motor, 2 feridos graves com 5 tripulantes, comprometendo a possibilidade de atingir a costa de Africa sem ser detectado.
No dia 25, o paquete cruzou-se com um cargueiro dinamarquês, traindo a sua posição, o que permitiu a um avião norte-americano localizar o "Santa Maria" horas depois.
Finalmente a 2 de Fevereiro o "Santa Maria" fundeou no porto brasileiro do Recife, procedendo ao desembarque dos passageiros e tripulantes.
Chegou a ser considerado o afundamento do paquete, mas no dia seguinte os rebeldes entregaram-se às autoridades brasileiras, obtendo asilo político, ao mesmo tempo que o "Santa Maria" voltava à posse da Companhia Colonial de Navegação.
Os passageiros do paquete assaltado foram transferidos para o "Vera Cruz", que saiu do Recife a 5 de Fevereiro, chegando a Lisboa a 14 do mesmo mês, após escalar Tenerife, Funchal e Vigo.
Por sua vez o "Santa Maria" largou do Recife a 7 de Fevereiro, entrando no Tejo, embandeirado em arco, a 16 e atracando a Alcântara...
Independentemente dos aspectos políticos que na altura rodearam o caso "Santa Maria", este incidente acabou por fazer do navio o mais famoso dos paquetes portugueses.
Embora o "Infante Dom Henrique" e o "Príncipe Perfeito" fossem mais recentes, o "Santa Maria" era um navio de prestígio por excelência, situação a que não era estranho o facto de ser o único navio de passageiros português a manter uma ligação regular entre Portugal e os Estados Unidos da América.
Coincidindo com o desvio do "Santa Maria", deflagraram a 4 de Fevereiro, em Luanda, incidentes graves, seguidos, em Março, do começo da guerra no Norte de Angola.
O Governo de Lisboa decidiu enfrentar a situação, enviando a partir de Abril ràpidamente e em força importantes reforços militares.
Esta decisão implicou, de imediato, a requisição de diversos paquetes e navios de carga afretados pelo Ministério do Exército para efectuarem o transporte de tropas e material de guerra.
A utilização esporádica para este fim de navios de passageiros portugueses vinha já do século XIX, passando a partir de 1961 a constituir uma das principais ocupações permanentes dos paquetes portugueses
in "Paquetes Portugueses" de Luis Miguel Correia
Pode ser consultada aqui a dissertação de José António Dias Mota Belo sobre este assalto, intitulada "Santa Maria - O Paquete R
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Tipo | Navio misto de 2 hélices |
Construtor | John Brown & Ca.Ld |
Local construção | Clydebank - Glasgow - Escócia |
Ano de construção | 1948 |
Ano de abate | 1974 |
Registo | Capitania do porto de Lisboa, em 16 de Junho de 1948, com o número H 362 |
Sinal de código | C S J E |
Comprimento fora a fora | 161,87 m |
Boca máxima | 20,83 m |
Calado à proa | 8,54 m |
Calado à popa | 8,54 m |
Arqueação bruta | 13.185,79 Toneladas |
Arqueação Liacute;quida | 7.758,63 Toneladas |
Capacidade | 11.230 m3 |
Porte bruto | 10.734 Toneladas |
Aparelho propulsor | Dois grupos de turbinas, construidos em 1948 por John Brown &Ca.Ld. Duas caldeiras para 30 K/cm2 de pressão. |
Potência | 13.200 cavalos |
Velocidade máxima | 19 nós |
Velocidade normal | 17 nós |
Passageiros | Alojamentos para 18 em classe de luxo, 101 em primeira classe, 156 em segunda, 118 em terceira e 406 em terceira suplementar, no total de 799 passageiros. |
Tripulantes | 164 |
Armador | Companhia Colonial de Navegação - Lisboa |
Tipo | Navio misto de 2 hélices |
Construtor | Bartram & Sons, Ld. |
Local construção | Sunderland - Inglaterra |
Ano de construção | 1950 |
Ano de abate | 1974 |
Registo | Capitania do porto de Lisboa, em 13 de Julho de 1950, com o número H 399 |
Sinal de código | C S K N |
Comprimento fora a fora | 131,42 m |
Boca máxima | 17,98 m |
Calado à proa | 7,80 m |
Calado à popa | 7,80 m |
Arqueação bruta | 7.655,95 Toneladas |
Arqueação Líquida | 4.223,83 Toneladas |
Capacidade | 9.254 m3 |
Porte bruto | 6.761 Toneladas |
Aparelho propulsor | Dois motores diesel, de 4 cilindros cada, construídos em 1950 por Richardsons, Westgarth & Co. Ld. em West Hartlepool - Inglaterra. |
Potência | 5.750 cavalos |
Velocidade máxima | 15,0 nós |
Velocidade normal | 14,5 nós |
Passageiros | Alojamentos para 4 em classe de luxo, 60 em primeira classe, 25 em terceira e 298 em terceira suplementar, no total de 387 passageiros. |
Tripulantes | 120 |
Armador | Companhia Nacional de Navegação - Lisboa |
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